O coronavírus não irá acabar com o mundo, já passamos e passaremos por situações piores. De tempos em tempos surgem epidemias que abalam a nossa sensação de estabilidade e segurança. Já tivemos o H1N1, a Gripe Espanhola, que inclusive matou o presidente brasileiro da época (Rodrigues Alves), a Peste Negra, que dizimou aproximadamente 200 milhões de pessoas. Tivemos e ainda temos outras epidemias virais (HIV, Dengue), ou já as esquecemos? Devemos ter calma para não nos alarmarmos de forma exagerada e gerarmos mais problemas do que já temos. Infelizmente (ou não) somos finitos e fadados a morrer, de viroses ou diversas outras causas. E lembrando que no Brasil ainda é mais fácil morrer pela violência, dependendo da sua situação social, do que pelo coronavírus.

Será que não aceitamos mais a morte? Temos e precisamos estar preparados para ela. De maneira alguma, repito, de maneira alguma, devemos nos conformar com a falta de recursos adequados para a saúde, essa já tão vilipendiada em nosso país há muitos anos. Pelo contrário, devemos exigir melhores condições para o trabalho dos profissionais da área da saúde e de cuidados para com os pacientes. A falta de leitos (problema permanente no Brasil), principalmente de UTIs parece ser a grande questão atual. Se ocorrer a disseminação rápida da doença, em especial nos idosos, os mesmos poderão morrer por falta de locais adequados para serem tratados, já que são um dos grupos de maior risco. Por isso evitarmos a disseminação é fundamental, principalmente através de medidas de higiene pessoal e de isolamento, ficando, sempre que possível, em casa. Porém o desespero está levando a problemas econômicos absurdos com repercussões mundiais que causará, provavelmente, mais danos que o próprio Conavid-19, como a recessão e, consequentemente, o desemprego. Que afetará principalmente as classes menos favorecidas economicamente.

O vírus irá passar e o mundo não irá acabar.
Mas podemos aproveitar esse momento de crise para revermos alguns de nossos conceitos e tirarmos algumas conclusões: que possuímos necessidades urgentes de melhoria da saúde pública, como a duradoura falta de leitos hospitalares, sejam elas em UTIs ou em enfermarias. Que epidemias irão continuar acontecendo e devemos estar mais bem preparados para as próximas, não só o Brasil, mas o mundo, tanto no aspecto técnico quanto psicológico. Desesperos coletivos não são bons conselheiros. Que por mais óbvio que seja, somos mortais e que isso faz parte da nossa existência. E morreremos, de viroses ou de outras causas. Claro que desejamos acabar com as mortes evitáveis e melhorar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas. Toda morte é uma perda para a humanidade. É um ser único que não voltará, mas o pânico mundial parece ser uma incapacidade das pessoas entenderem que não ficaremos para semente.

E sim, viroses matam milhares de pessoas todos os anos. Precisaremos de mais estudos nessa área? Não devemos melhorar nossa capacidade de prevenir algumas dessas epidemias?
Que nossos medos e angústias não nos impeçam de acreditarmos na razão e na ciência. Precisamos ter calma e respirarmos profundamente, com ou sem máscaras de proteção. Não podemos fugir de nossas obrigações, sociais e profissionais, principalmente nós médicos.
E que precisamos fazer nossa parte. Temos que ter senso comunitário.

Vamos lavar as mãos e evitarmos as multidões por um tempo. Para que o quanto antes possamos novamente nos abraçar e brindar com saúde a vida, que tem entre suas razões de ser e de sentido, a sua própria finitude.

Kleber Francisco Meneghel Vargas
Médico Psiquiatra

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