Vacinação – Vicissitudes de um velho
Juberty Antonio de Souza
No momento a maior preocupação das pessoas normais é a pandemia, é COVID 19. É uma preocupação tão intensa que tem causado condutas as mais divergentes possíveis, de acordo com a percepção das pessoas. Assim vemos pessoas escondendo-se de todas as formas, quando vai ao médico e pede água, pega o seu álcool e que não espirra na superfície externa, enquanto que outros tem a certeza de que nada lhe acontecerá, que não existe a pandemia como refere o ídolo de algumas destas pessoas. Assim recusa tomar toda e qualquer medida prevenção, se colocando em risco e colocando em risco as outras pessoas.
Entretanto algumas pessoas, principalmente os mais idosos, mais experientes, com vivência de outras epidemias, e sobretudo acreditando no potencial de contágio e de letalidade. Um destes profissionais, médico, professor universitário, foi infectado, conseguiu se recuperar com algumas sequelas, mas ficou na expectativa da vacina, pois ciente da possibilidade da reinfecção e das mutações já existentes, não queria repetir exta experiência.
Assim. Ficou contente com a notícia de que na cidade houvera uma iniciativa conjunta entre a Secretaria de Saúde e a UNIMED, para fazer uma programação de vacinação inicialmente para médicos velhos. Ficou satisfeito porque já passar dos 70, andava com dificuldades, com o auxílio de uma bengala, fruto de AVC 10 anos atrás.
Todo pimpão, compareceu ao Hospital da Unimed, foi encaminhado ao 6º andar, ficou espantado com a quantidade de pessoas, ficou sabendo que os funcionários do hospital também estavam recebendo a vacina.
Procurou um lugar para se encostar e esperar a sua vez quando foi “descoberto” por uma ex-aluna, que ali estava e dirigiu-se a ele:
…oi, professor! Já foi cadastrado? Não? Então vou fazer o seu cadastro.
Com a agilidade própria de uma adolescente, em poucos minutos, fez a sua anamnese, não se esquecendo de nenhum item. Mostrou que aprendera bem como entrevistar e conseguir dados.
Ao término, ela o levou até a fila com mais 350 pessoas, assim lhe parecera, pois havia cerca de 50 pessoas em fila para vacinar, e ele ficou mais animado, mas vendo o seu sorriso a ex aluna lhe disse sorrindo:
…professor, nas aulas o senhor sempre dizia ironias…agora é a minha vez…
Frente ao seu assombro, e porque não receio, ela o pegou pelo braço, dirigiu-se para a fila, e em voz alta, trovejou…
…pessoal, esta é uma prioridade prioritária…e continuou…é um galo velho, manco, vesgo e gagá…
Feito isto, e sem ligar para os risos, continuou segurando-o pelo braço, levou-o até a sala em que as profissionais estavam vacinando, e ainda com um sorriso aquecedor, olhou-o nos olhos e disparou…
…agora quero ver…não vá gritar, hein?
Ao término, acompanhou o velho professor até o elevador e se despediu…
…até logo professor, foi muito bom te ver…