O resgate de uma prática médica mais próxima do ser humano, baseada na defesa de princípios éticos e comprometida com a cidadania. Essas são algumas das características que deveriam nortear a formação dos futuros profissionais e estarem presentes no dia-a-dia daqueles que já atuam na assistência dos pacientes. A construção deste perfil – considerado ideal por vários médicos, professores e alunos de medicina – foi feita na solenidade de abertura do V Congresso de Humanidades Médicas, que termina na próxima sexta-feira (4), em Goiânia (GO).

Para o coordenador da Comissão de Humanidades Médicas do Conselho Federal de Medicina, Henrique Batista e Silva, os tempos contemporâneos exigem uma formação mais ampla dos médicos, agregando outros “saberes”, tornando-os aptos a entenderem os pacientes e a sociedade em sua integralidade. “Áreas como antropologia, música, cinema, filosofia, literatura e tantas outras têm muito a nos oferecer. São campos do conhecimento que valorizam o potencial humano e podem contribuir para o aperfeiçoamento do agir do médico, desde sua formação até o fim de sua vida profissional. Por outro lado, esse acumulo de visões traz impacto positivo na relação com o paciente, desde seu nascimento até o a fase da terminalidade da vida”, disse.

Ao saudar os participantes do Congresso, Henrique Batista e Silva ressaltou a relevância de encontros deste tipo como forma de estimular mudanças nos currículos das escolas médicas e também na prática profissional. Segundo ele, nos encontros da Comissão de Humanidades as trocas realizadas entre os membros têm sinalizado para a necessidade de despertar um novo perfil médico no País. A rápida exposição do coordenador, que também é secretário-geral do CFM, coadunou com a dos outros participantes da solenidade de abertura.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Aldair Novato, lembrou das múltiplas dimensões afeitas ao exercício da profissão. “A medicina exige conhecimento técnico e cientifico, colocando diariamente em perspectiva o saber. A cada consulta, o médico coloca em pratica o resultado de seu aprendizado, obtido após anos de estudo e de vida profissional. Mas a medicina não é apenas ciência e técnica: ela é essencialmente a arte de conhecer, entender, respeitar e se relacionar com o outro. Ela é essencialmente humana”, ressaltou.

Para o presidente do CFM, as humanidades em medicina devem ser vistas como um compromisso vocacional de cada indivíduo com o exercício da cidadania

Para o presidente do CFM, as humanidades em medicina devem ser vistas como um compromisso vocacional de cada indivíduo com o exercício da cidadania

“Esse caráter humano da profissão nunca pode ser esquecido, negligenciado ou substituído por qualquer tecnologia, não importa o quão avançado que seja”, alertou Aldair Novato, representante da instituição anfitriã do V Congresso. Aliás, esse risco – da tecnificação excessiva dos atos médicos – também foi citado pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, para quem os avanços científicos que ganharam fôlego a partir do século 18 causaram impacto no fator humano relacionado ao exercício da Medicina, nem sempre de forma positiva.

De acordo com ele, atualmente, os médicos caminham em busca do resgaste de atitudes e visões que coloquem em evidencia os aspectos humanísticos e humanitários no exercício da medicina. Contudo, lembrou Carlos Vital, as humanidades em medicina vão muito além. Devem ser vistas como um compromisso vocacional de cada indivíduo com o exercício da cidadania em tempo integral, inclusive em defesa de causas públicas. “Atualmente, nO Brasil, há três causas prioritárias: a erradicação do modo argentário e corrupto de fazer alianças políticas, a extinção da cultura da impunidade e a promoção e a preservação dos direitos e da dignidade humanos”, arrematou.

Em seu primeiro dia, o V Congresso de Humanidades Médicas, contou com uma mesa que centrou seu debate sobre o tema “Currículo oculto e educação médica”. Na oportunidade, os conferencistas convidados – professor Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, vice coordenador do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades da Universidade de São Paulo (USP), e Felipe Scalisa Oliveira, membro da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (Denem) – abordaram questões relacionados a presença de abordagens e práticas inadequadas e antiéticas no ambiente universitário.

Segundo eles, há comportamentos preconceituosos – dos mais diferentes matizes – que comprometem o processo de formação dos médicos e que não são combatidos pelos responsáveis pela gestão das escolas em atividade. No entendimento dos palestrantes, essa omissão não contribui para a qualificação dos futuros profissionais, premia comportamentos inadequados e pune os que se rebelam contra este tipo de práticas. Um dos momentos onde estas distorções são mais visíveis, afirmaram, é o do acolhimento dos novos estudantes pelos veteranos. Foram apresentados relatos dos chamados “trotes”, durante os quais ocorreriam agressões aos direitos individuais e humanos, além de infrações à legislação e um estímulo à práticas condenáveis.

Ainda pela manhã, no primeiro dia do V Congresso, ocorreu uma primeira rodada de oficinas, que se propunham a provocar o debate entre seus participantes ao redor de temas de interesse para a formação dos médicos na perspectiva de regaste dos valores humanitários e humanísticos. Os três temas centrais foram: “Humanidades na educação médica no mundo”, com apresentação de Bruna dos Reis Costa (Universidade Federal Fluminense (UFF)/Denem) e coordenação de Carlos Andrés Acosta Casas (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)/Denem); “Medicina e Espiritualidade”, com apresentação de Carlos Roberto – UERJ e Kalil Fregúlia de Souza, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); e “Arteterapia”, com apresentação do arte educador Rafael Barreiros (também conhecido como Gentileza) e coordenação de Luna Jeannie Alves Mangueira, do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA).

 
 

 

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