A médica Neide Mota Machado, dona da Clínica Planejamento Familiar de Campo Grande onde eram praticados abortos há mais de 20 anos, exerceu o direito constitucional de permanecer calada durante os 40 minutos de interrogatório feito pela delegada Regina Márcia Rodrigues de Brito, adjunta do 1º DP, e pelos promotores de Justiça Paulo Cezar dos Passos e Luciana Amaral Rabelo Nagib. Segundo o promotor de Justiça Paulo Passos, foram feitas 20 perguntas, mas ela comunicou que só vai responder em juízo. “Em juízo ela poderá até mentir ou apresentar uma versão qualquer”, disse, completando que o processo já está no cartório e deve chegar até segunda-feira à 2ª Vara Criminal de Campo Grande, onde, a princípio, ficará a cargo do juiz Júlio Roberto, da 1ª Vara Criminal, que responde pelo caso até o fim das férias do juiz Aluízio dos Santos Pereira. Revogação O advogado Everton Belinatti, que representa a dona da clínica de aborto, confirmou que a cliente permaneceu calada durante o depoimento por ter optado por responder apenas em juízo e reforçou que irá pedir a revogação da prisão preventiva da médica. No entanto, o promotor de Justiça Paulo Passos disse que vai se posicionar contrário à revogação da prisão preventiva, pois, em momento algum, ela auxiliou as investigações e manteve-se foragida. “O comportamento dela não estabelece garantias de que permanecerá na cidade para responder às instruções judiciais necessárias caso seja colocada em liberdade”, explicou Paulo Passos. Já o advogado da médica alegou que baseará a defesa no fato de não terem sido localizados fetos para comprovar a prática do crime de aborto. A promotora de Justiça Luciana Nagib explicou que a argumentação da defesa será facilmente desqualificada, pois nos autos constam as fichas médicas das pacientes que, ao darem entrada na clínica, estavam grávidas e, após procedimento médico feita por Neide Mota, não aparecem mais como grávidas, o que comprovaria a prática de aborto. Prisão A médica Neide Mota Machado foi presa por volta das 20 horas de ontem na Fazenda Santa Maria, no município de Terenos, pertencente a uma delegada aposentada que deve ser denunciada por favorecimento, conforme informou o promotor Paulo César dos Passos. Neide Mota Machado afirmou aos policiais que foi para a fazenda na tarde de ontem para cuidar da amiga. Os policiais chegaram até ela durante uma operação conjunta da Unicoc (Unidade de Combate a Organizações Criminosas) e do Garras (Grupo Armado de Repressão a Roubos, Assaltos e Seqüestros), segundo informações do delegado André Pacheco. No local, eles verificaram que havia um carro coberto por um pano e bateram palmas em frente à fazenda, mas ninguém atendeu. Os policiais então entraram no local e verificaram que se tratava do Cross Fox placa HSG-7958, de Campo Grande (MS), que pertencia a Neide. Após a confirmação da propriedade do veículo, eles bateram na porta e a médica, ainda um pouco sonolenta, atendeu, sendo dada voz de prisão, sendo que os policiais não revelaram onde ela estava escondida durante os cerca de 80 dias que permaneceu foragida da Justiça. Presa, ela foi levada para a DECO (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado) onde passou a noite e depois foi encaminhada nesta manhã para uma cela do Garras após passar por exame de corpo delito no IML (Instituto Médico Legal). Ao deixar o 1º DP nesta tarde, onde foi prestar depoimento, ela estava com a mesma roupa que utilizou para deixar a DECO, incluindo um casado que foi usado para esconder as algemas, além de chapéu preto e óculos escuros. A exemplo de hoje pela manhã, a médica também estava sorrindo e fez pose para os fotógrafos que a aguardavam do lado de fora da delegacia. Ela deve permanecer no Garras até amanhã, quando será levada para o Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi. Denúncia Na última terça-feira, os promotores Paulo Cezar dos Passos e Luciana Amaral Rabelo Nagib denunciaram à Justiça a médica e mais 34 pessoas acusadas de praticar e auxiliar nos abortos. Foram denunciados oito funcionário da Clínica Planejamento Familiar pertencente a médica Neide. O MPE (Ministério Público Estadual) solicitou que a médica cumpra de 27 a 28 anos de prisão pelos crimes de aborto praticados nos últimos 20 anos que renderam cerca de R$ 9 milhões, conforme apurado pelas investigações. Os promotores constataram ainda que a clínica visava somente o lucro e tentava alegar para as pacientes que o aborto era um local seguro. Apesar da imagem de segurança, foi constatado que muitas pacientes faziam o aborto sem anestesia geral. Além disso, a médica chegou a aplicar uma injeção do medicamento Vetagran, aplicado em vacas. A jovem submetida ao remédio teve uma hemorragia e precisou ser internada na Maternidade Cândido Mariano. Fonte: Midiamax News
Dona de clínica de aborto cala-se em depoimento
12/07/2007 | 03:00