Muitos casos de dependência de álcool em mulheres surgem associados a distúrbios alimentares. A chamada drunkorexia é um distúrbio que associa alcoolismo e anorexia ou bulimia e faz com que o ato de beber traga satisfação dobrada: além de reduzir o apetite da mulher, faz com que ela tenha uma visão distorcida da realidade. De acordo com a Syllene Nunes, consultora médica de medicina preventiva da Central Nacional Unimed, o alcoolismo causa uma diminuição da necessidade de se ingerirem alimentos, já que o álcool acaba fornecendo energia necessária à manutenção do organismo por vias alternativas e não adequadas. A associação do álcool a tentativas de emagrecimento leva à potencialização dessas vias alternativas de obtenção de energia, podendo gerar colapso dos sistemas envolvidos, comprometendo a vida do indivíduo. A drunkorexia, que atinge 10 mulheres para cada homem, tende a se manifestar em quem enfrenta outros transtornos psicológicos. DEPOIMENTO Comecei a beber de forma social. Natal, ano-novo, às vezes, nos fins de semana. Aquilo ficou cada vez mais frequente, porque sempre encontrava uma desculpa. Se o dia estivesse frio demais, bebia para esquentá-lo. Em outro que estivesse quente, tomava uma cerveja para refrescar. Isso, então, foi aumentando. Chegou um momento em que a cerveja não era suficiente e eu passei para os destilados. Para ninguém perceber, na frente da família, tomava a cerveja. Mas, atrás de um móvel, guardava um destilado e enganava os outros e a mim mesma. Até ali, bebia socialmente. Depois, com os sofrimentos que a vida trouxe, comecei a ter problemas sérios. Quando cheguei a Brasília, a situação piorou. Aqui, comecei a vender trevos de quatro folhas. Só que meu marido não conseguia dar certo em nenhum emprego. Eu trabalhava dia e noite, sem domingo ou feriado, para colocar algo dentro de casa. E, mesmo assim, ele dizia que eu não fazia nada. Isso foi me deixando mal e comecei a beber diariamente. Durante o trabalho, bebia vodca, para não deixar bafo. Só que não estava mais conseguindo dar conta do serviço e dei um tempo em casa. Foi quando comecei a beber todos os dias, durante um ano e meio. No meio disso tudo, ele começou a me trair, zombava de mim o tempo inteiro e eu não sabia mais como resolver minha vida. Nesse momento, eu já era uma esponja: bebia sem controle algum. Cansei de acordar no hospital, sem fazer ideia de como fui parar ali ou mesmo no meio da rua. Em uma das minhas bebedeiras, meu marido chamou uma ambulância e, para me colocar dentro, me arrastou pelo cimento, à força, ralando as minhas costas. Foi quando me trouxeram para o Caps e recebi ajuda. Assim, pude entender meu problema. Estou há dois anos separada e sem beber. Continuo meu tratamento, mas voltei a trabalhar e tenho os meus filhos por perto. A bebida era uma forma de suportar o casamento, mas, agora, que estou feliz, não preciso mais dela. Vitória, 59 anos Fonte: Revista do Correio – 12/09/2010

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