Médicos emergencistas, professores universitários, alunos em Medicina de Emergência e estudantes de medicina discutiram propostas de melhoria na formação e no treinamento na área. Para os participantes, foi um passo decisivo “após o reconhecimento da especialidade [prestes a ser publicado em resolução do Conselho Federal de Medicina]”, conforme destacou o 1º vice-presidente do CFM, Mauro Ribeiro, durante a solenidade de abertura.

Os debates ocorreram dentro do I Fórum de Formação do Médico Emergencista, promovido pelo CFM, na terça-feira (24). Os objetivos foram unir forças pelo aperfeiçoamento do ambiente de formação e trabalho na especialidade, construir bases científicas para este processo, partilhar experiências e estimular alianças institucionais.

No decorrer do encontro, foram discutidos modelos de formação internacionais e no Brasil, a importância da simulação como forma de adquirir habilidades e competências, as bases de um conteúdo programático para a Medicina de Emergência, além de aspectos relacionados à titulação.

“Este primeiro fórum aconteceu por iniciativa da Câmara Técnica de Medicina de Urgência e Emergência do CFM em virtude dos últimos acontecimentos. No entanto, o trabalho não para por aqui. Novos encontros serão necessários com a participação dos diferentes segmentos envolvidos no processo, sendo fundamental a participação da Associação Médica Brasileira (AMB)”, ressaltou Mauro Ribeiro.

Para Hélio Penna Guimarães, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e médico do Hospital do Coração (HCor), o momento é essencial para a estruturação de uma formação sólida na área. Esta estruturação, segundo Luiz Alexandre Alegretti Borges, ex-diretor da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), beneficiará de maneira clara a assistência. “Teremos uma Medicina de Emergência muito melhor para contemplarmos os nossos pacientes”, disse.

Modelos de formação – Para problematizar o papel e o desenvolvimento da Medicina de Emergência, os participantes debateram os modelos de formação nos Estados Unidos e no Brasil, comparando as duas realidades. O tema foi apresentado pela professora Patrícia Mello, supervisora do Programa de Residência Médica em Medicina Intensiva do Hospital Getúlio Vargas (Piauí) e membro da Comissão de Título de Especialista da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), e pelo professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Irineu Tadeu Velasco. Os trabalhos foram dirigidos pela coordenadora da Residência em Medicina de Emergência do Hospital de Pronto Socorro (HPS) do Porto Alegre, Ana Paula da Rocha Freitas, e secretariados por Rosana leite de Mello, presidente do Conselho Regional de Medicina do Mato Grosso Sul (CRM-MS) e professora de cirurgia na Universidade Federal daquele Estado.

A importância da simulação como forma de adquirir habilidades e competências e o conteúdo programático também foram tópicos debatidos. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Francisco Bruno, apresentou a experiência da sua escola no treinamento de alunos. “A simulação, envolvendo, por exemplo, a reflexão pós-experiência ou denominada debriefing, causa grande efeito na formação para a tomada de decisão, o desenvolvimento de habilidades técnicas e aptidão para o trabalho em equipe”, explica.

Para complementar o debate, o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), Marco Antônio de Carvalho Filho, argumentou que o grande desafio é formar, dentro dos cenários de prática atuais, um profissional apto a trabalhar em equipe, que saiba atuar sob pressão e ante o imprevisível, e capaz de tomar decisões rápidas e com competência. “Acredito que um grande passo seria unirmos as experiências de várias instituições, partilhar iniciativas de metodologia de ensino, laboratórios etc.”, disse.

Programa – A elaboração do conteúdo programático para médicos em formação em Medicina de Emergência é outro aspecto fundamental quando o assunto é formação na área. A professora Patrícia Mello apresentou documentos (canadenses, europeus e norte-americanos) que podem ser referência para o Brasil. Esses documentos apontam o conceito da especialidade e os objetivos do treinamento, além das capacidades que o emergencista deve ter.

Sob coordenação de Sérgio Amantéa, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, e secretariados por Frederico Arnaud, professor da Fundação Edson Queiroz Universidade de Fortaleza (Unifor), os debatedores também falaram sobre as políticas para a área. O coordenador da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências (RBCE), Armando de Negri, destacou o cenário brasileiro, que conta com apenas 371 serviços hospitalares de emergência cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

“Se fôssemos nos comparar com a Espanha, por exemplo, deveríamos ter pelo menos 780 serviços”, ressalta, destacando ainda que é preciso que o Brasil tenha profissionais competentes em gestão e que entendam o serviço de emergência integrado ao hospital. “Aqui temos muitos pacientes com urgências sociais e problemas de saúde mental; precisamos traçar o perfil do profissional para lidar com isso”, disse.

O I Fórum também abriu espaço para discussão sobre as propostas de titulação em Medicina de Emergência. Modelos adotados por outros países foram colocados em perspectiva, mas as definições deverão ser tomadas pela futura sociedade da especialidade com a AMB, a qual tem a autoridade de deliberar sobre o assunto.

“Conquistamos a especialidade médica, o que foi resultado da luta dos colegas que trabalham nas emergências. Como encaminhamento, vamos estudar modelos transparentes que incluam e capacitem os profissionais. Em relação à futura sociedade de especialidade em emergência, este é um assunto de competência da exclusiva da AMB, sendo que o CFM reconhecerá as decisões que foram tomadas”, concluiu Mauro Ribeiro.

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