Método de interrupção de gravidez que costuma suscitar paixões religiosas e éticas, o aborto é uma prática silenciosa, mas comum, bastante comum, no País e em Mato Grosso do Sul, segundo aponta estudo inédito, que identifica o tamanho da utilização do procedimento, nem sempre de forma segura. No País, a estimativa é de um milhão de abortos inseguros todos os anos, conforme o estudo “Magnitude do Aborto no Brasil”, da Organização Não-Governamental internacional Ipas, voltada à saúde reprodutiva feminina. No Estado, o cálculo da equipe responsável pelo levantamento é de que, só em 2006, tenham sido 10,8 mil casos. O dado, tanto nacional como o estadual, é baseado em um índice que considera informações levantadas junto ao Ministério da Saúde, em relação às internações geradas por abortamentos. A partir desse número, os pesquisadores projetam que outros três casos ocorram sem que haja conhecimento das autoridades. A pesquisa elaborou um índice de risco de aborto para a população feminina, considerando o número de casos a cada grupo de mil mulheres. No Estado, assim como ocorre de norte a sul brasileiros, há uma discrepância muito grande nos índices. A média geral mostra que o “risco-aborto” é de 17,4 para cada grupo de mil mulheres. Em Campo Grande, essa relação é de 16,9 para mil mulheres, menor que a média estadual, conforme aponta o estudo. Pela estimativa, só no ano passado teriam ocorrido na capital do Estado 3,8 mil abortos, considerando que foram pouco mais de 900 internações por essa causa registradas. Fronteira – Há municípios do estado a taxas de abortamento é bem mais altas que a média, como em Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, onde ele é de 52 abortos por mil mulheres. Em Corumbá, na fronteira com a Bolívia, o índice também é alto, de 34 por mil. As duas cidades têm em comum o fato de estar próximas à fronteira, onde o acesso a medicamentos abortivos, de venda um tanto mais difícil no Brasil, é mais facilitado. A vinda de mulheres do outro lado da fronteira, para se tratarem no Brasil depois de um aborto, seria outro motivo do alto motivo de internações por essa causa, e por conseqüência do risco de abortamento. Na pesquisa, o risco também é extratificado por faixa etária. Em Mato Grosso do Sul, ele é maior para mulheres jovens, dos 20 aos 29 anos, chegando a 27,7/mil. Para mulheres entre 30 e 39 anos, o número é de 13,9 anos. Entre as adolescentes também é alto: a cada mil, 20,5 podem ter feito um procedimento abortivo. No País, o estudo indica que os abortamentos feitos de forma insegura são um problema de saúde pública que deixa mulheres mortas anualmente. De acordo com o estudo do Ipas, de 2000 a 2004, ocorreram 697 mortes em conseqüência de gravidez que termina em aborto, principalmente de mulheres com idade entre 20 e 29 anos (323 óbitos no período). Sugestões – Para os responsáveis pela pesquisa, o tratamento do assunto da forma histórica no País, que criminaliza o aborto com exceção dos casos em que a mãe corre risco e a justiça autoriza o procedimento, acaba por favorecer a clandestinidade. Numa linha que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, já se enveredou, criando polêmica, o estudo defende que o assunto seja discutido “sem interferência de dogmas religiosos, como atribuição do Estado laico e democrático”. “A penalização, a estigmatização e o preconceito contra estas mulheres em situação de abortamento inseguro não ajudam a minimizar o problema nem a diminuir as graves conseqüências para a saúde da população feminina”, afirmam os estudiosos do assunto. “Esta população precisa de apoio, atenção, cuidados médicos e de uma cobertura mais eficiente dos métodos anticoncepcionais”, complementam. Assinam o estudo Leila Adesse, diretora do programa do Ipas no Brasil e Mário Monteiro, professor ligado ao Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Cytotec – O texto sugere ainda que sejam feitos estudos para identificar os motivos de as mulheres buscarem a clandestinidade para abortar, para entender porque as de menor escolaridade acabam sofrendo mais seqüelas e traz, ainda, uma proposta polêmica: a avaliação do misoprostol, princípio ativo do medicamento Cytotec, como fator redutor do risco dos abortos inseguros. O Cytotec é um medicamento de uso restrito em hospitais no Brasil, e teve a comercialização ao público proibida justamente por causa do uso como abortivo. É notória a comercialização clandestina desse tipo de medicamento, que originalmente era usado para úlcera, mas descobriu-se que provocava contrações uterinas, induzindo ao aborto. Quando a polícia fechou, em abril, a clínica da médica Neide Mota Machado, em Campo Grande, sob acusação de fazer abortos clandestinos, caixas do medicamento foram encontradas no local. A médica está sendo processada, junto com 8 funcionários da clínica, e sofre processo ético pelo CRM (Conselho Regional de Medicina), que a impediu de exercer a atividade enquanto corre o caso. Fonte: Campo Grande News

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