UH News: Dr. Jubert, como o senhor avalia a situação da saúde, de forma geral, aqui em Mato Grosso do Sul?

 Dr. Juberty Antônio de Souza: Podemos avaliar de diferentes perspectivas. Quando avaliamos no sentido do atendimento, quando a pessoa consegue ser atendida na saúde pública, ela é atendida e bem atendida. A pessoa é atendida como pessoa humana. Avaliando nesse sentido, temos uma medicina de boa qualidade. O problema não é a pessoa que é atendida, o problema é quem não consegue atendimento, o que representa uma parcela significativa da população, que não tem acesso a saúde pública, dessa forma sendo bastante deficiente.

 UH News: E como o senhor avalia esses pacientes que deixam de ser atendidos, por conta de paralisações. Como o exemplo que acontece na Santa Casa, onde médicos residentes e enfermeiros estão em greve?

 Dr. Juberty: O atendimento na saúde é a soma dos profissionais da saúde, de forma geral, o médico e o residente acabam sendo prejudicados por uma própria característica da profissão. O exercício da profissão é o atendimento as pessoas minimizando a dor e o sofrimento. Entretanto, ao longo desse tempo esqueceu-se que os profissionais da saúde também são pessoas e que têm suas necessidades, sejam profissionais ou pessoais. Quando se fala em greve, que é um direito legítimo do trabalhador, se aceita. Mas quando a greve é no setor da saúde imediatamente é invocado o risco que isso pode trazer a população. Então, os profissionais de saúde terminam com um problema muito grande. Dessa forma, historicamente no Brasil acabam tendo limitações. É utilizada contra os profissionais de saúde, a argumentação de que esta é uma atividade essencial e que a população depende desse serviço.

 UH News: E quanto aos recursos, muitos falam que são escassos, outros, que a verba existe, mas é mal utilizada. Como o senhor vê a utilização do que se aplica na saúde e esse jogo de empurra – empurra de responsabilidades?

 Dr. Juberty: Eu até não diria que se trata de um jogo de empurra-empurra, mas que é uma dificuldade que tem que ser conversada entre as divergentes instâncias. Lembrando aquele velho ditado que diz “na casa onde não há pão, todos gritam e ninguém tem razão”. Historicamente no Brasil, estamos muito desvalorizados. O acesso ao serviço de saúde nunca foi valorizado. Existem os movimentos de três, quatro décadas atrás, mas que não tem conseguido sucesso até porque, de uma forma geral, temos peso histórico e temos ainda as dificuldades. Tem recurso? Tem recurso. Mas será que esse recurso é suficiente? Essa deveria ser a túnica da discussão. Já há alguns anos tramita no congresso a emenda constitucional número 29, que definiria esses dispostos na saúde. Mas até agora não foi votada. Tem recurso? Tem. Mas a pergunta é esses recursos são suficientes em nível federal, são suficientes em nível estadual, são suficientes em nível municipal? E nos estabelecimentos, isso termina refletindo, não só na dificuldade da população ao serviço de saúde, mas também na execução do serviço desse profissional de saúde. A discussão da utilização dos recursos, ao meu ver, e posso estar enganado, é em segundo plano. A discussão é os recursos são suficientes?

 UH News: Falando de saúde pública especificamente, temos o modelo do SUS, que é conhecido internacionalmente. Estes recursos, o senhor acredita serem poucos, ou estarem sendo mal utilizados, sendo direcionados, por exemplo, aos atendimentos particulares?

 Dr. Juberty: Nós temos novamente alguns equívocos. O SUS enquanto filantropia é quase perfeito. Um sistema de saúde que daria o direito a todos os cidadãos de serem atendidos é a aspiração de todos os países que têm a suas pessoas como cidadãos. Então como filosofia é quase perfeito. O grande problema é que quando criamos o SUS, idealizamos o SUS, optamos pela implantação do SUS, foi feito tudo errado. Quem paga a conta? E é esse o problema que vem sendo discutido desde então. O SUS como filosofia é excelente, é o reconhecimento da pessoa como merecedor de todos os elementos da cidadania. O problema no Brasil é justamente de onde viriam esses recursos para tais atendimentos, o que até hoje não foi claramente definido. Volto a falar, a emenda constitucional 29, que está tramitando, poderia ser um dos elementos que poderia fazer com que isso ficasse melhor para todos.

 UH News: Para finalizar, com relação a tudo o que abordamos até aqui, qual o impacto para o trabalho e a situação dos médicos aqui em Mato Grosso do Sul?

 Dr. Juberty: Não diria os médicos de Mato Grosso do Sul, mas de todo Brasil. Os médicos terminam sendo o elemento fraco da corrente. Quando acontece qualquer coisa relacionada a saúde, os médicos imediatamente são responsabilizados. E aí, você, como faz parte da mídia, se chegar na Santa Casa, no Hospital Regional, no Hospital universitário ou em qualquer outro hospital, e ver uma superlotação nas emergências, as pessoas nas macas, isso não é culpa do médico. Ele está lá para atender e está atendendo da melhor forma possível com os recursos possíveis. A parte do médico ele está fazendo, e está fazendo em situações muitas vezes precárias. Entretanto, o médico é o único que termina sendo responsabilizado por este tipo de situação. Portanto, o médico tem sido constituído a parte fraca da corrente e tem recebido todos os prejuízos dessa situação, em que ele é simplesmente participante. E é ele quem termina olhando no rosto do paciente e dizendo o que deve ser feito, orientando a família, quanto ao sucesso ou fracasso da intervenção.

 Fonte: UH News

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