Ângela Kempfer O horário da novela mudou e a polêmica foi instalada em Mato Grosso do Sul. Por coincidência, ou pressão, uma série de articulações foi desencadeada no Estado para mudar o fuso horário local, igualando ao de Brasília. Só no Senado, foram apresentados nas últimas semanas dois projetos: um que estabelece a mudança e outro que define um plebiscito em outubro para consultar a população sobre o assunto. Na ruas, em uma consulta sem maiores pretensões, entrevistados usam palavras como “absurdo” de legislar por conta da programação da TV, ou “urgência” de garantir o futebol ao vivo. O vendedor de sorvetes João Juvêncio Álvares, de 71 anos, concorda com a alteração. “Mas não é pela novela não, é porque gosto de futebol e na quarta-feira não tem o que fazer”. Torcedor do Santos, ele conta que para ele e para o filho de 14 anos “acabou a diversão”. A professora Maria Cecília de Souza prefere deixar tudo como está. Sobre a programação, ela entende a lei, mas acha que o melhor seria voltar tudo como era antes. “Os pais é que têm de decidir sobre o que os filhos podem assistir. Essa mudança é mais para empresário do que para a população em geral”, avalia. Na Assembléia Legislativa, o tema também divide opiniões e hoje dominou parte dos discursos dos deputados. No mês passado, um grupo saiu em defesa do fim do Horário de Verão, após audiência pública sobre o tema no dia 14 de abril. Na ocasião, médicos e pesquisadores demonstraram os efeitos negativos de uma hora a mais de exposição ao sol, como aumento dos casos de câncer de pele. Um mês depois, parte da Casa volta a se manifestar, desta vez em favor da continuidade e, para sempre. “Vá até Bodoquena, até Três Lagoas. São cidades que vivem em torno de dois horários, o de Mato Grosso do Sul e o de São Paulo, isso é uma dificuldade”, argumentou a deputada Celina Jallad (PMDB). A favor da mudança, ela contou aos colegas de Legislativo nesta quinta-feira histórias que, do ponto de vista da deputada, mostram a necessidade da alteração. “A mudança dos horários da Globo transformam os hábitos das famílias”, reforçou sobre a necessidade de ajuste. Do outro lado da discussão, o deputado Paulo Correa (PR) retrucou: “Não podemos desconsiderar o que essa mudança de fuso pode significar para a saúde da população.” Organizador da audiência pública que condenou o Horário de Verão, o parlamentar pediu cautela. Ele reclama da possibilidade do projeto do senador Delcídio do Amaral (PT), que estabelece a alteração do fuso horário do Estado, ser aprovado sem uma discussão mais aprofundada. “Não dá para aprovar algo assim, tão importante, sem debater e ouvir os prós e contras. Esse projeto atropela o debate. O melhor é o plebiscito”, reivindica Correa. O projeto do senador petista tem por justificativa a reivindicação de vários setores da sociedade, como a Federação das Indústrias, das associações comerciais e das empresas do mercado financeiro. Dentre os argumentos também aparece que “no campo da comunicação, a diferença de fuso horário leva os habitantes da parte Oeste do Brasil a adotarem hábitos peculiares para contornarem as limitações que lhe são impostas”. O deputado Youssif Domingos (PMDB) lembrou que a polêmica teve início justamente quando as emissoras de televisão foram obrigadas a modificar a programação como forma de cumprir portaria expedida pelo Ministério da Justiça no ano passado. O objetivo da mudança é atender a classificação indicativa das faixas etárias. Com isso, até o futebol agora é gravado e transmitido em compacto a Mato Grosso do Sul. Domingos coloca dúvida, inclusive, em relação ao plebiscito, proposto pelo senador Valter Pereira (PMDB), em analise na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Caso seja aprovado, a consulta a população sobre a mudança será inserida nas eleições de outubro. “Antes de perguntar, tem de discutir mais, fazer um debate abrangente”, diz. Argumentos – Durante a audiência que pediu o fim do Horário de Verão, uma pesquisa foi apresentada demonstrando insatisfação de 63% da população com o atraso dos relógios. Médicos falaram que, dentre os problemas acarretados pela mudança anual estão estresse, insônia, queda do rendimento escolar e funcional, aumento da quantidade de acidentes, elevação da auto-medicação, além do crescimento dos casos de câncer de pele. “Mato Grosso do Sul não merece esse castigo”, chegou a comentar durante o encontro o médico Adalberto Siufi, um dos principias nomes da oncologia em Mato Grosso do Sul. Na frente oposta, a equiparação do fuso horário do Estado com o de Brasília, em Mato Grosso do Sul é uma hora a menos, foi discutida também na Câmara Municipal de Campo Grande. Um abaixo-assinado a favor da mudança foi levado às ruas de Campo Grande no último sábado, com o objetivo de recolher 30 mil assinaturas na Capital, mas em cinco dias de coleta, menos de 10 mil adesões foram conseguidas. Já na enquete, no ar nesta semana no Campo Grande News, até o momento, vence a opção pela mudança com 63,1%. Nas ruas – Moacir Coelho, de 48 anos, já antecipa: se houver plebiscito vai votar a favor da alteração. “Quem vem de fora, vem com outro horário, o de Brasília. Tudo igual, fica mais fácil.” (fonte: jornal Campo Grande News – 15.05.2008)

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