Mais de 650 mil brasileiros que precisam recorrer a tratamentos paliativos podem ser beneficiados com o reconhecimento da medicina paliativa como área de atuação médica, após publicação de resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), ontem, no Diário Oficial da União. A terapia é utilizada no alívio de dores e sintomas e na melhoria da qualidade de vida de pacientes com doenças crônicas ou em fase terminal. O conselho também reconheceu ontem as especialidades do sono e da dor e a medicina tropical.

No caso dos cuidados paliativos, a falta de reconhecimento da especialidade era considerada um obstáculo para a formação de profissionais e o desenvolvimento de centros que ofereçam esse tipo de tratamento. Segundo o chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Hélio Bergo, com o reconhecimento, será possível a realização de residência médica que habilitará profissionais da saúde para a aplicação da terapia.

O núcleo tem um projeto pronto para ser apresentado à Secretaria de Saúde. Devidamente avaliado e aceito, ele pode dar origem a programas de residência na área em um ano.

O título de paliativista, concedido pela Associação Médica Brasileira (AMB), será fornecido após um ano de formação a médicos e enfermeiros que sejam especialistas em uma das seguintes áreas: clínica médica, câncer, geriatria, gerontologia, pediatria, anestesiologia ou medicina de família e comunidade.

Estima-se que cerca de 8 mil pacientes necessitem do tratamento no DF. Atualmente, a terapia é oferecida no Hospital de Apoio e no serviço ambulatorial do Hospital de Base. Profissionais que atuam na área acabam se qualificando por cursos alternativos. A Secretaria de Saúde, por exemplo, realiza reuniões mensais sobre o tema e oferece cursos de capacitação na área.

Há 10 anos dedicando-se aos cuidados paliativos, o enfermeiro Renato Camarão, que trabalha no Hospital de Apoio de Brasília, diz que o tratamento ainda é visto como um tabu por parte da sociedade. “É fundamental as pessoas saberem que ainda há curas possíveis, não da doença, mas das relações familiares, do medo e da baixa autoestima”, aponta. Ele conta que, além do tratamento médico para melhorar as condições de vida do paciente, é oferecido acompanhamento psicológico ao paciente e à família dele.

A intenção, segundo o enfermeiro, é proporcionar uma “morte digna” àqueles que não apresentam possibilidade de cura. Os desejos das pessoas internadas, como refeições especiais, bichos de estimação e até casamentos, são promovidos pelos profissionais da Ala A do hospital, onde são internadas pessoas em estado terminal.

Desde o início deste ano, 133 pacientes terminais passaram seus últimos dias nas salas do Hospital de Apoio, que levam nomes de pássaros e flores. Terminal, aliás, é um termo banido pela equipe do local, que o substitui por “paciente fora de possibilidade de cura clínica”. É o caso do segurança Lindinaldo Souza Leão, 30 anos, que vive há cerca de três meses em uma maca. Privado do movimento das pernas devido a complicações de um câncer retroperitonial, Lindinaldo conhece sua condição, mas ainda sorri, gesto que justifica o trabalho dos médicos, enfermeiros, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais que acompanham seu caso.

É fundamental as pessoas saberem que ainda há curas possíveis, não da doença, mas das relações familiares, do medo e da baixa autoestima.

Fonte: correiobraziliense.com.br – Renato Camarão, enfermeiro

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