
“O CFM tem atuado com intensidade para garantir a presença dos médicos nas regiões de fronteira e no interior profundo do Brasil, como na floresta amazônica. No geral, essas localidades de difícil acesso não contam nem com a infraestrutura básica. Por isso, o Conselho – em parceria com o Exército Brasileiro e outras instituições da sociedade civil – está empenhado em suprir esse desafio, especialmente na questão indígena, uma vez que essa parcela da população, sobretudo a infanto-juvenil, também tem direito de acesso a diagnósticos e tratamentos”, pontuou a Dilza.
Introduzindo a discussão, o professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (UFAC), Rodrigo Pinheiro Silveira, enfatizou o expressivo número de indígenas distribuídos por todos os estados do País – aproximadamente 800 mil – e apresentou as especificidades relacionadas à organização dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), âmbito em que ocorrem os atendimentos na Atenção Primária.

Na sequência, a também professora de Medicina da UFAC, Fernanda Lage Lima Dantas, abordou alguns dos desafios relacionados à assistência às crianças indígenas. Conforme alertou, atualmente a taxa de mortalidade infantil nessa população é três vezes maior que a taxa nacional. Para a especialista, temas básicos como vacinação, aleitamento materno e infecções parasitárias precisam ser melhor trabalhados, sob uma perspectiva intercultural, com respeito às particularidades de cada etnia e ao contexto ambiental.
“Muitas vezes, as equipes de saúde realizam o acolhimento do paciente a partir da perspectiva da civilização ocidental. É preciso fomentar iniciativas que transformem os hospitais e unidades de saúde em locais onde seja respeitado o modo de vida deles, para que não haja resistência aos processos de cuidado da medicina tradicional”, explicou.
Drogas lícitas e ilícitas – Na ocasião, ocorreu ainda o colóquio “Crianças e adolescentes usuários de drogas”, conduzido pelo membro da Comissão para Controle de Drogas Lícitas e Ilícitas do CFM, João Paulo Becker Lotufo, que alertou para a diminuição da percepção dos riscos do uso de drogas e apresentou trabalhos científicos sobre a experimentação de drogas na faixa etária escolar.
“O uso precoce dessas substâncias tem efeitos prejudiciais comprovados no desenvolvimento do indivíduo, com lesões permanentes inclusive na memória. Além disso, a utilização também é responsável por outros malefícios sociais, com influência significativa para a elevação da evasão escolar e gravidez precoce”, explicou.
O especialista também ressaltou os riscos dos dispositivos eletrônicos para fumar – vaporizadores, cigarros eletrônicos e outros. Segundo ele, os artefatos são potencialmente perigosos, uma vez que são percebidos como atrativos aos não fumantes, em especial para os adolescentes e jovens.
“A indústria tabagista apresenta esses dispositivos como uma ferramenta de redução de danos. No geral, estes dispositivos utilizam uma alta concentração de nicotina. Nos Estados Unidos, uma epidemia de dependentes – mais grave entre a população universitária – foi deflagrada nos últimos anos e levou alguns estados americanos a suspenderem a comercialização desse produto. Os médicos brasileiros devem estar atentos e investir alguns minutos da consulta para orientar seus pacientes sobre todos esses problemas relacionados ao uso das drogas”, concluiu.