A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT promove, de 10 a 12 de março, no Royal Palm Plaza, em Campinas, uma prova com número recorde de candidatos, 840 médicos. Eles almejam conseguir o título de especialista, isto é, o direito de usarem oficialmente o nome de ortopedista.

A prova de título – TEOT, uma das mais completas realizadas no Brasil, tem a duração de três dias e várias fases, envolve 430 examinadores vindos do Brasil inteiro. Para se candidatar, um médico precisa ter se preparado durante pelo menos nove anos, cursando seis anos de faculdade de Medicina, mais a residência médica ou curso de especialização num dos serviços credenciados pela SBOT por mais 3 anos.

O presidente da Comissão de Ensino e Treinamento, Alexandre Fogaça Cristante, que organiza a prova, explica o número excepcional de candidatos pelo crescimento da importância da Ortopedia e pelo aumento da demanda. “O trauma tornou-se problema endêmico no Brasil atual”, lembra, causado principalmente por acidentes de automóvel, de motocicleta, queda de laje – problema recorrente em favelas onde as pessoas usam a laje das casas como área de lazer – e também ferimentos de armas de fogo, que se tornaram mais complexos pelo uso de munição de fragmentação, cujas balas se partem dentro do corpo da vítima, aumentando o efeito do tiro.

Prova de atitude – A supervisora da Comissão Científica, Fabiana Ramalho, conta que, ao aprovar um candidato no exame, a SBOT garante à sociedade, que ele tem o conhecimento e a capacitação necessária para atender os pacientes no amplo espectro de problemas ortopédicos e traumatológicos.

Por isso mesmo o exame não é classificatório, mas analisa a suficiência do conhecimento do candidato, que passa primeiro por uma prova eliminatória de três horas com teste de múltipla escolha. Na segunda fase, ele se submete a um exame oral em que é confrontado com uma situação clínica, como por exemplo uma radiografia de fratura perante a qual precisa explicar como trataria esse paciente.

Na terceira fase o candidato faz um exame clínico, no qual são ‘pacientes’ soldados do Exército que se oferecem como voluntários e o médico deve mostrar como faz um exame diante de uma suspeita de lesão ligamentar do joelho, de lombalgia ou de fratura, por exemplo. Novidade no exame, o candidato mostrará, diante do examinador, conhecimento ético e psicológico ao dar uma notícia negativa para o ‘paciente’, explicando por exemplo que será preciso amputar a perna ou então que a cirurgia longamente esperada terá que ser remarcada para outra data.

A última prova é de habilidade. O candidato a ortopedista mostra com osso sintético, por exemplo, como faria determinada cirurgia. “O exame é rigoroso e complexo”, reconhece Alexandre Fogaça, tanto que só uma parcela dos candidatos é aprovada, mas é preciso que seja assim para que haja certeza da capacitação do especialista que irá atender à população.

Concentração de profissionais – “A SBOT tem 11.000 ortopedistas e traumatologistas associados”, diz Alexandre Fogaça, todos eles testados e de comprovada capacitação. “Mas para garantir o atendimento de toda a população não basta o especialista, pois é necessária a infraestrutura, que pressupõe hospitais bem distribuídos no território nacional, equipamentos para exames de ressonância e tomografia, salas de cirurgia devidamente equipadas, UTIs, bancos de sangue e até de ossos e pele”,  explica.

É justamente a carência dessa infraestrutura que leva os médicos a se concentrarem nos grandes centros pois de nada adianta um especialista ir trabalhar numa cidade do Interior onde não conta com hospital equipado nem com os recursos necessários. Essa carência é que leva à concentração do atendimento e às longas filas nos hospitais.

O exemplo, afirma Fogaça, é o recente Carnaval que, apenas nas rodovias federais, resultou em 1.643 feridos. Muitos deles tiveram que ser atendidos de forma multidisciplinar e só nos grandes centros, pois além do ortopedista, um politraumatizado pode necessitar de atendimento pelo neurocirurgião, pelo cirurgião geral, e até por especialistas em outras áreas dependendo da complexidade do trauma .

“Para o leigo, 1.643 feridos é apenas um número”, insiste o médico, mas para o ortopedista cada paciente significa um longo trabalho e um desafio, cada vez mais complexo. “É muito diferente uma fratura do passado, quando alguém caía do cavalo, a 20 quilômetros por hora, do que uma queda de motocicleta, a 120 por hora”.

Uma fratura exposta de um motociclista pode envolver o controle de hemorragia, a estabilização, exames de imagem, cirurgia, eventualmente a colocação de uma prótese, três meses de internação e talvez a cobertura do tecido com transplante de pele vinda de um banco de tecidos. Só depois é que terá início o longo trabalho de fisioterapia, seis meses pelo menos. “É extremamente complicado e caro”, conclui, mas enquanto no passado grande parte dos casos de trauma levavam ao óbito, hoje a equipe médica consegue salvar a vida, recuperar o paciente e reduzir a sequela. Mas para isso tem que provar, no exame de especialista, que está capacitado e apto para atender à demanda da sociedade brasileira.

Fonte: SBOT 

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