O excesso de escolas médicas, a insuficiência dos cenários de práticas e os sistemas de avaliação dos estudantes e de acreditação das escolas médicas foram os temas debatidos na manhã desta terça-feira (5), no VIII Fórum Nacional de Ensino Médico, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, entre hoje e amanhã (6). “Questões que asfixiam a formação do médico brasileiro serão tratadas nesses dois dias”, adiantou o coordenador da Comissão de Ensino Médico do CFM, Lúcio Flávio Gonzaga.

Acompanhe, aqui, a transmissão ao vivo do VIII Fórum Nacional de Ensino Médico

Participaram da mesa de abertura, além do coordenador da Comissão, o presidente do CFM, Carlos Vital; a secretaria-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica, Rosana Leite, que representou o ministro da Educação; o representante da Associação Médica Brasileira, Jorge Salomão, o presidente da Federação das Academias de Medicina, José Amilton Maciel e o presidente da Associação Brasileiro de Educação Médica (Abem), Sigisfredo Brenelli. Em todas as falas foi unânime o posicionamento de que será possível unir forças pela melhoria do ensino médico. “Estou otimista. Apesar dos desafios, começando a analisar como nossa casa se encontra para decidirmos o que vamos fazer”, afirmou Rosana Leite. “Não vamos chorar sobre o leite derramado. Temos de fazer a política de redução de danos e seguir em frente”, concordou o presidente do CFM, Carlos Vital.

Número de escolas médicas – Após a abertura, o presidente do CFM, Carlos Vital, proferiu a conferência “Evolução do número de escolas médicas: tendências e desafios”. De acordo com os números apresentados, existem hoje 294 faculdades de medicina, das quais 185 são privadas, que recebem anualmente 28.304 novos estudantes. A previsão é que até 2018 sejam 303 escolas. Hoje, a relação é de 2,1 médico por mil habitantes, mas em pouco tempo esta relação chegará a 4/1000. “O maior problema, no entanto, não será a proporção, mas a qualidade desses profissionais, que estão sendo formados, já que muitos cursos não têm infraestrutura, não possuem corpo docente qualificado, nem cenários de prática suficiente”, denunciou Vital. A apresentação pode ser acessada aqui.

O presidente do CFM informou que o ministro da Educação, Mendonça Filho, comprometeu-se a não mais publicar editais para a abertura de novas escolas médicos, mas disse que será mantido o compromisso com àquelas instituições vencedoras dos processos seletivos anteriores. Vital também repassou informações, repassadas pela presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas em Educação Anísio Teixeira, Maria Inês Fini, no II Fórum Nacional de Integração do Médico Jovem: foram 22.086 estudantes que fizeram a última Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (Anasem), o que correspondem a 89,67% do número de acadêmicos de medicina no país.

Ao final de sua fala, Carlos Vital defendeu mudanças no Anasem, que deveria, também, responsabilizar as escolas médicas. “A nossa posição é pela adoção de normas restritivas à abertura de novas escolas e por um processo de avaliação consequente, devolutivo e formativo. Os benefícios para a sociedade seriam inquestionáveis, com decorrente contribuição para a manutenção do prestígio da medicina”, ressaltou.

Mesa redonda – Após a conferência, foi realizada uma mesa redonda sobre a evolução das escolas médicas. A primeira participante foi Rosana Alves, membro da Comissão de Ensino Médico do CFM e professora da faculdade de medicina da Universidade Federal do Espírito Santos, que falou sobre “Cenários de prática diante das diretrizes curriculares vigentes”. Na sua apresentação, ela apresentou o resultado de uma pesquisa com gestores de saúde para saber o que eles esperavam dos profissionais de medicina. Eles querem que o médico conheça o Sistema Único de Saúde, conheçam e saibam manejar as doenças mais prevalentes na sociedade e saibam aplicar os protocolos do Ministério da Saúde.

Os problemas apresentados pelos gestores decorrem de fragilidades na formação do médico. “Não adianta colocar o estudante em um hospital, ou em uma unidade de saúde se ele não tiver o acompanhamento de um preceptor. O qual, por sua vez, precisa ser valorizado”, defendeu. De acordo com Rosana Alves, há uma dissociação entre o docente e o professor, o que prejudica a formação do jovem médico.

Em seguida, a superintendente do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Luciana de Gouvêa Viana, falou sobre “Hospitais de Ensino e Ebserh”. De acordo com a gestora, o convênio com a Ebserh foi proveitoso para o HC, que está conseguindo quitar suas dívidas, contratou pessoal qualificado e está conseguindo manter a autonomia. “Aumentamos a inserção de alunos e residentes nos cenário e elevamos a qualidade dos nossos profissionais. Contratamos preceptores e mantivemos em curva ascendente as pesquisas clínicas”, garantiu. Segundo Luciana, pesquisa de qualidade realizada pela Ebserh mostra que o índice de satisfação dos usuários é superior a 95%. E as queixas que existem são em relação à estrutura física. Acesse, aqui, a apresentação de Luciana Viana.

O “Mapeamento Estrutural dos Novos Cursos de Medicina” foi apresentado pela coordenadora-geral de Expansão e Gestão da Educação em Saúde do Ministério da Educação, Bruna Borges de Castro Moura, que apresentou como funciona a estrutura da coordenadoria. Segundo a gestora, 38 novos cursos de medicina serão abertos até 2018. A previsão do MEC é que até lá sejam abertos 7.340 novas vagas. Bruna Moura reconheceu que a Comissão de Acompanhamento e Monitoramento de Escolas Médicas (Camem) não estava realizando avaliações das escolas médicas, devido a um questionamento da Controladoria Geral da União, mas que as visitas voltarão a ser realizadas em breve. A apresentação da gestora do MEC pode ser lida aqui.

O Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (Saeme) foi explicado pelo presidente da Abem, Sigisfredo Brenelli, que mostrou o resultado das avaliações realizadas ano passado. Segundo Brenelli, o Saeme deve receber este ano certificação internacional, o que vai qualificar ainda mais a acreditação realizada pela Abem com o apoio do CFM. “A acreditação das escolas não se confunde com o sistema de avaliação dos estudantes. São complementares”, explicou. Ele anunciou que a Abem ficará responsável pela aplicação do Anasem, sendo esta uma conquista para a classe médica. A palestra de Brenelli pode ser acessada aqui.

Durante a manhã também foi lançado o caderno “Avaliação das Instituições de Ensino Médico e do Estudante de Medicina – relatório do VII Fórum Nacional dr Ensino Médico”, que traz uma edição das discussões realizadas no Fórum realizado ano passado. “Este texto traz um panorama dos efeitos nocivos da proliferação recente de escolas médicas em nosso país e deve ser lido por todos àqueles que se interessam pela qualidade do ensino médico em nosso país”, elogiou o presidente do CFM, Carlos Vital.

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